Colesterol: nova diretriz brasileira endurece metas e cria categoria de “risco extremo”

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24 de setembro de 2025
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A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou nesta quarta-feira (24) a atualização da Diretriz de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, que substitui a versão de 2017 e introduz metas mais rígidas para controle dos níveis de colesterol LDL — o chamado “colesterol ruim” — além de incluir novos marcadores de risco cardiovascular.

Principais mudanças nas metas de LDL

A diretriz revisada define agora cinco faixas de risco para pacientes, com metas distintas:

Categoria de risco Meta de LDL (mg/dL) Comparativo com diretriz anterior
Baixo risco < 115 anterior: < 130
Intermediário < 100 sem mudança significativa
Alto < 70 permanece igual
Muito alto < 50 antes: < 70
Extremo < 40 nova categoria

A grande novidade é a categoria risco extremo, voltada para pacientes que já sofreram múltiplos eventos cardiovasculares (infarto, AVC etc.), para os quais a meta de LDL agora é inferior a 40 mg/dL — um nível que não constava nas versões anteriores da diretriz.

Novos marcadores e diagnósticos recomendados

A atualização também amplia os parâmetros a serem considerados no perfil lipídico e no cálculo do risco cardiovascular:

  • Passa a recomendar o uso do colesterol não-HDL, apolipoproteína B e lipoproteína(a) [Lp(a)] como marcadores complementares.
  • Recomenda que todos os adultos façam ao menos uma vez na vida a dosagem de Lp(a). Valores acima de 125 nmol/L ou 50 mg/dL são considerados elevados.
  • Para estimar o risco em 10 anos de infarto ou AVC, propõe o uso de modelos mais completos, como o escore Prevent, que considera fatores adicionais como função renal e índice de massa corporal (IMC).

Os especialistas ressaltam, porém, que muitos desses exames ainda não são amplamente disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nem cobertos por todos os planos de saúde.

Estratégias terapêuticas e papel do estilo de vida

Diante das novas metas mais agressivas, a diretriz indica que, nos pacientes de risco alto, muito alto ou extremo, a abordagem farmacológica combinada deve ser a regra, e não a exceção. Entre as principais estratégias recomendadas estão:

  • Estatina + ezetimiba
  • Estatina + inibidor de PCSK9
  • Estatina + ácido bempedoico
  • Terapias triplas (estatinas + ezetimiba + PCSK9) em casos de maior risco, que podem reduzir o LDL em até 85%.

Apesar disso, o documento reforça que mudanças no estilo de vida continuam fundamentais: alimentação balanceada, prática regular de exercícios, abandono do tabagismo, controle de peso e moderação no consumo de álcool.

Justificativas e impactos esperados

Segundo cardiologistas ouvidos na reportagem:

  • Os ajustes nas metas derivam de evidências crescentes de que níveis ainda mais baixos de LDL são benéficos para prevenir eventos cardiovasculares futuros, sobretudo em pacientes já afetados.
  • Ao instituir a categoria de risco extremo, a diretriz reconhece que quem já teve eventos precisa de metas ainda mais agressivas para reduzir a chance de novas ocorrências.
  • O novo padrão brasileiro está alinhado com tendências internacionais, como a diretriz europeia, que também revisou seus parâmetros recentemente.

A expectativa é que as novas orientações contribuam para redução da mortalidade cardiovascular no país, guiando tanto a prática médica como políticas públicas de saúde — especialmente a partir do momento em que o país enfrenta desafios como o aumento da obesidade, do sedentarismo e do estresse crônico na população.

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