TÁ TUDO CARO? OU TÁ TODO MUNDO MAL ACOSTUMADO?

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25 de março de 2025
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CAFÉ VIROU OURO, OVO VIROU LUXO, MAS A CERVEJA SEGUE GELADA E NINGUÉM RECLAMA

Enquanto o brasileiro lota a internet com lamúrias sobre o preço do café e do ovo, a gelada continua reinando absoluta no carrinho do supermercado — e no bolso do cidadão. Reclamar do café é fácil, mas largar a cerveja, ninguém quer. E isso revela mais do que uma questão de paladar: revela um comportamento de consumo que precisa urgentemente de um banho de realidade — e de pesquisa de preço.

Vamos combinar: café não virou artigo de luxo. O que virou escasso foi paciência e bom senso. O clima realmente judiou das plantações, a demanda cresceu, a oferta diminuiu. É lei econômica básica — aquela que a gente aprende no ensino médio e esquece logo depois da prova. O ovo? Mesma coisa. Ração mais cara, combustível instável, custo de produção lá em cima. Mas nada que justifique o chilique coletivo nas redes.

O brasileiro está mal acostumado: quer qualidade, quer fartura, quer preço baixo — mas não quer pesquisar. Vai ao mercado como quem vai ao shopping: pega o que vê pela frente, sem comparar, sem olhar rótulo, sem procurar o menor preço. Aí sai falando que “tá tudo um absurdo”.

Mas não, não está.

O café brasileiro continua entre os mais baratos do mundo. O ovo também. E se você ainda não percebeu isso, talvez esteja comprando no lugar errado. Ou caindo no velho truque do marketing: aumentar o preço de um item em destaque e deixar os outros mais em conta passando despercebidos.

Na Bahia, por exemplo, tem o aplicativo “Preço da Hora”, que mostra onde cada produto está mais barato em tempo real. Isso mesmo: o preço do café, do arroz, do ovo, da carne, do gás, da cerveja, do papel higiênico… tudo! Mas adivinha quem baixa o app? Quase ninguém.

E os políticos? Também adoram um barraco sobre o preço do café. Fazem discurso inflamado, prometem CPI do Ovo, querem audiência pública pra saber por que a carne tá cara. Mas não movem uma palha pra incentivar educação financeira, consumo consciente, agricultura sustentável ou incentivos reais à produção.

A verdade é que falta pesquisa, falta hábito, falta noção. E sobra drama. O Brasil precisa reaprender a fazer mercado. Parar de comprar por impulso, de reclamar por esporte e de cair em fake news de encartes maquiados.

Porque, sejamos sinceros: se o brasileiro pesquisasse o preço do feijão com a mesma dedicação que pesquisa a promoção da cerveja, o país já tinha entrado em outra era econômica.

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