
SÃO JOÃO É O NATAL DO NORDESTE: ARTISTAS DO BRASIL, SALVEM NOSSA CULTURA!
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21 de junho de 2025
Luizão na praça da Cidade Baiana de Jânio Quadros
Por Sammy Chagas
Não se trata apenas de shows. Não é apenas forró, palco, luz e aplausos. O São João do Nordeste é muito mais do que isso — é o Natal de um povo inteiro. É tempo de reencontros, de memórias vivas, de raízes que florescem no sertão e na caatinga. É história, é fé, é resistência. E, neste momento em que os interesses comerciais ameaçam sepultar essa riqueza cultural, conclamamos todos os artistas do Brasil: salvem o São João.
É preciso compreender que o São João não é só mais uma data do calendário. Ele pulsa como o coração cultural do Nordeste. É nesse tempo que milhares de nordestinos deixam as grandes cidades e retornam aos seus interiores, para se reencontrarem com os pais, os avós, os irmãos, os amigos da infância. As ruas ganham bandeirolas, o cheiro de milho, canjica e amendoim toma conta das casas, a fogueira aquece o peito e a sanfona, a zabumba e o triângulo embalam um povo que transformou a luta diária em festa.
Cada acorde desses três instrumentos é um grito de resistência. É a memória de um povo que sobreviveu à seca, ao abandono, às desigualdades. A zabumba é o compasso da esperança. O triângulo é o sino que anuncia o reencontro. A sanfona é o lamento e a alegria ao mesmo tempo. É por isso que dizemos, sem medo de errar: o São João é o verdadeiro Natal nordestino. Um tempo onde não apenas celebramos a colheita ou os santos juninos, mas o nascimento da união, da fé e da alegria, dentro de cada lar nordestino.
Não se trata de excluir artistas. Todos têm seu valor, todos merecem o respeito. Mas é preciso que os grandes nomes da música nacional entendam: quando se sobe ao palco no São João, se pisa no solo sagrado da tradição. E esse espaço merece reverência, merece compromisso. Não basta cantar. É preciso se envolver, defender, representar.
Por isso, fazemos aqui um apelo a nomes como Ivete Sangalo, Luan Santana, Anitta, Léo Santana, Gusttavo Lima, Wesley Safadão, Ludmilla, Jorge e Mateus, entre tantos outros: usem suas vozes não apenas para cantar, mas para preservar. Defendam o forró, valorizem os mestres da cultura popular, abracem essa causa que é de todos nós. O São João não é uma festa qualquer. É a alma do Brasil profundo.
Que cada artista se junte a essa corrente pela cultura nordestina. Que produtores e empresários parem de enxergar o São João como vitrine e passem a vê-lo como patrimônio. Que as instituições defendam sua essência. Que os palcos voltem a vibrar com o som do autêntico forró, que não morra a zabumba, o triângulo e a sanfona, porque se eles morrem, morre também um pedaço da história do Brasil.
Não sou um jornalista famoso, daqueles que ocupam grandes redações, microfones de emissoras nacionais ou câmeras das grandes TVs. Sou um jornalista nordestino, nascido do chão quente do interior, que viveu, conheceu, sobreviveu e brincou no meio das fogueiras, das quadrilhas e do som da sanfona. Sou filho e fruto dessa história — a história viva do povo do Nordeste, que transforma resistência em cultura, e cultura em festa.
O São João é maior que o show. É maior que o palco. É o milagre da alegria nordestina em forma de música, dança e fé. E ele só continuará vivo se todos — artistas, produtores, prefeitos e o povo — se unirem para mantê-lo aceso.
Não deixem apagar o fogo da nossa fogueira.