
PLATÃO, A CAVERNA E O OLAVO: UMA SEMENTE CONSERVADORA.
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03 de fevereiro de 2022
Por João Carlos Vieira
Platão era um gigante fisicamente e intelectualmente. Era um gigante na comunicação simbólica e um analista político fantástico. Fisicamente alguns apontam que tinha ombros largos e altura acima da média. Foi aluno e discípulo de um grande filósofo revolucionário, Sócrates, que deixou sementes no pensamento platônico. Nunca se esqueçam que as sementes multiplicam o fruto…
Platão é um exímio comunicador e seu desejo de revelar a verdade e o BEM, através do Mito da Caverna, é uma de suas marcas enquanto escritor, político e filósofo. Platão é fruto de Sócrates.
O Mito da Caverna é um esforço pedagógico e filosófico para que o interlocutor ou leitor entenda o mundo através de um prisma que dissipa a escuridão da ignorância na qual estamos mergulhados e nem percebemos.
A alegoria platônica nos indica que os nossos sentidos nos levam a capturar parte da realidade, mas não toda a verdade. Nossos sentidos capturam versões de uma história predeterminada, cuja a missão é fazer crer que as sombras da caverna são a única verdade.
As sombras da caverna são manipuladas pelos “amos da caverna”. Eles determinam quais os objetos devem ser projetados no interior da caverna para que os homens acorrentados percebam e acreditem que a projeção na parede é a realidade. Há um fogo no interior da caverna sob a tutela dos “amos da caverna”. Esse fogo faz com que as projeções dos objetos ganhem formas no interior da caverna e sejam percebidas pelos acorrentados.
Você, leitor, precisa entender o Mito da Caverna para entender um pouco do Olavo de Carvalho e sua missão. O referido mito é um convite a sair da caverna escura da ignorância. É um convite a se libertar das correntes que nos aprisionam e nos mantém com a mente e o corpo imobilizados diante das sombras da caverna. Sombras enganosas. São projeções de um fogo controlado por quem escravizam as mentes.
No mito da Caverna os homens estão num buraco profundo e escuro, capaz de acomodar homens acorrentados e imobilizados perante uma parede onde são projetadas imagens – sombras. É mediante um fogo controlado que as sombras são projetadas. As imagens são repetidas em ciclos alternados e os acorrentados apenas contemplam o ciclo repetitivo das sombras. Imaginemos muitos seres humanos acorrentados pelo pescoço, imobilizados a ponto de olharem, exclusivamente, para uma única área da caverna. Os ciclos de projeções se repetem desde da infância até a idade adulta, indo até a morte dos acorrentados.
O mito da Caverna é muito atual e lança luz sobre o poder político e os meios de comunicações que nos modelam e reconfiguram a opinião pública para atender determinados interesses políticos partidários. Numa única parede da caverna são projetadas a vida e a narrativa de uma hegemônica vertente de pensamento político, que modela e escraviza os que moram e sobrevivem no fundo da caverna com uma única luz – a da fogueira no interior da caverna. Ora , quem assume o controle do fogo e o controle das projeções dominam as pessoas. Platão fala de poder político e opressão psicológica com uma antecedência profética. Podemos afirmar que o controle do fogo e das projeções determinam o que é percebido pelos encarcerados na caverna. Eles são filhos de um sistema que reproduz a ignorância para promover o controle. Em termos atuais, trata-se do controle da opinião pública prefigurado pelo gênio alegórico de Platão.
Platão nos diz claramente que a realidade é construída pelos manipuladores do fogo e dos objetos. Assim são as notícias nas redações que se vinculam à “Matrix” de um pensamento hegemônico que intenta calar o que resta de civilização ocidental cristã democrática. Lembra do filme “Matrix”? Quem lê entenda. Essa obra cinematográfica carrega a essência do Mito da Caverna.
A parte central do Mito da Caverna é a inesperada fuga de um dos acorrentados. Esse fugitivo escapa em meio à escuridão, galgando espaços no interior da caverna onde havia um feixe de luz, rompendo o passado sombrio de escravidão e indo na direção da pequena luminosidade. O bravo fugitivo avista a saída e é impactado pela forte luminosidade fora da caverna. Ele vê o sol pela primeira vez e não suporta a experiência. Os olhos se fecham e ele tenta se recompor para ver novas imagens mais nítidas e mais coloridas sob a luz solar. É impressionante o novo mundo capturado pelos sentidos fora da caverna. Depois da magnífica experiência da luz solar, o fugitivo é tomado pelo espirito de fraternidade e volta ao fundo da caverna para contar a “boa nova” de que a realidade fora da caverna é muito mais agradável e exuberante. Ele volta para fazer o resgate de muitos acorrentados que foram doutrinados e modelados pelas sombras da caverna. Ele retorna com um discurso pronto para libertar, mas é surpreendido com a reação dos prisioneiros que se recusam a sair e até tratam mal o “evangelista libertador”. Os cativos renunciam ao convite para conhecer a verdade sob a luz do sol. Eles amaldiçoam e afugentam o libertador e sua ideia libertadora.
A prefiguração de um libertador que outrora estava amarrado é uma trajetória política e filosófica. O Olavo é o sujeito que imbuído de um espirito libertador e autonomia intelectual rara escapa das amarras e ergue a cabeça com a coragem de um filósofo para questionar as sombras e os amos da caverna. Nenhuma cicuta parou o Olavo.
Olavo é o inconformado com a escuridão de uma perspectiva que teima em ser “divina”, dogmatizando o pensar e o agir dos acorrentados. Olavo foi o foco de muitos ataques e incompreensões. Imaginemos as humilhações e as ofensas em vida e após sua morte…
Com sua morte o filósofo se torna semente conservadora que cumprirá o seu destino de frutificar, multiplicando-se em muitos frutos que produzirão novas sementes num ciclo interminável de uma única verdade: A semente morre para se multiplicar. Olavo viveu porque era semente. Agora, na sua morte, se multiplica na forma de semente conservadora.
Finalizando, na despedida da semente, podemos dizer: Descanse em paz, Olavo! A caverna já não controla muitos homens em decorrência da sua coragem e da sua visão.