Os Monstros da 101 – A barbárie às margens da BR-101: quando o homem esquece que é humano

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22 de outubro de 2025
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Por Sammy Chagas

Há fatos que, mesmo a contragosto, nos obrigam a refletir sobre o limite da degradação humana. Um desses aconteceu recentemente na BR-101, nas proximidades de Itamaraju, quando uma carreta carregada de bois tombou. O acidente, por si só, já seria motivo de lamento. Mas o que veio depois transformou a cena em algo digno de repulsa e vergonha coletiva.

Este jornalista tentou evitar ver as imagens. Relutei. Mas, como tantos outros, acabei vendo pequenos trechos que circulam nas redes sociais — e confesso: não consegui continuar. A brutalidade exibida ali não cabia na tela de um celular.

Enquanto os animais agonizavam, feridos, pessoas desceram de carros e motos para saquear a carga, como se fossem abutres em volta de uma carniça. E não bastasse o furto, muitos dos bois que ainda estavam vivos foram mortos a pauladas e machadadas, na beira da pista, sob o olhar de quem filmava e compartilhava o horror.

Não, não me venham com a desculpa da fome. Nenhum faminto chega de carro ou moto para praticar tamanho ato de crueldade. O que vimos ali não foi necessidade — foi selvageria travestida de oportunidade. Foi a exposição nua e crua de uma humanidade em decadência moral.

O primeiro crime foi o roubo. O segundo, e talvez o mais grave, foi o massacre de seres indefesos. Aquelas vidas não pertenciam àquelas mãos. Aquelas cenas jamais deveriam existir.

O que está acontecendo conosco?
Vivemos em uma era em que muitos já não distinguem o certo do errado, o humano do bestial. Alguns diriam que “os animais agem por instinto”. Pois bem — instinto é o que parece faltar ao ser humano moderno, que se orgulha de sua racionalidade, mas que a cada dia prova ter perdido a consciência.

Talvez seja hora de reconhecer: os animais ainda pensam, sentem e respeitam a natureza. O homem, não raro, a destrói — e destrói também sua própria alma no caminho.

Não sei mais se falta consciência, se falta Deus ou se sobrou egoísmo. Só sei que há algo de profundamente doente numa sociedade que transforma um acidente em espetáculo de barbárie.

Essas imagens, que eu não recomendo a ninguém assistir, ficarão marcadas como um retrato cruel de um país onde a compaixão parece estar em extinção.

Talvez a teoria da evolução tenha se invertido — porque, ao que tudo indica, os animais estão evoluindo, e nós estamos regredindo.

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