OPINIÃO NÃO É CRIME: O BRASIL PRECISA RESPEITAR O DIREITO DE PENSAR DIFERENTE

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02 de maio de 2025
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Por Sammy Chagas 

Em um Brasil cada vez mais polarizado, cresce um fenômeno perigoso: a criminalização do pensamento divergente. Quem se posiciona, questiona ou simplesmente opina fora do que determinado grupo considera “correto” logo recebe um rótulo — e geralmente não é elogioso. De forma imediata e irracional, transformamos qualquer discordância em confronto ideológico.

Essa lógica maniqueísta — onde tudo é “Lula ou Bolsonaro”, “esquerda ou direita” — tem feito vítimas silenciosas nas famílias, nas amizades, nos espaços públicos e virtuais. O país parece ter perdido a capacidade de conviver com o diferente, de acolher opiniões divergentes sem transformar tudo em batalha política.

Pensar diferente virou afronta. Expressar-se com liberdade virou provocação. Mas precisamos lembrar que o dissenso faz parte da democracia. O debate saudável é o que fortalece sociedades livres, não a unanimidade forçada. Como já dizia Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”.

A diversidade de pensamento é natural e inevitável. Ninguém foi criado igual, educado igual ou viveu as mesmas experiências. Cada ser humano carrega seus contextos, suas dores e suas referências. E tudo isso se reflete no modo como enxerga o mundo. Discordar é parte da construção coletiva. Ouvir o outro, refletir e até mudar de ideia — isso é maturidade política e intelectual.

No entanto, no Brasil recente, até conceitos distorcidos têm sido utilizados como armas. A palavra “comunismo”, por exemplo, virou espantalho político. O país nunca teve um governo comunista, nem mesmo políticas de Estado que se aproximassem da doutrina marxista original, que prega a abolição da propriedade privada e do Estado. O que existe no mundo hoje são regimes autoritários que usam o termo “comunista” como fachada, mas que em nada se parecem com a teoria que dizem representar.

Essa confusão serve apenas para alimentar discursos de medo e intolerância. E mais: esvazia o debate público, empobrece a política e estimula o ódio gratuito.

É hora de amadurecer. O Brasil precisa resgatar o respeito, a escuta e o equilíbrio. Não se trata de ser contra ou a favor de um partido ou figura política — trata-se de ser civilizado. Concordar, discordar, debater, ponderar: isso é viver em democracia. Isso é ter consciência cidadã.

Porém, que nenhum direito fundamental é absoluto. Liberdade de expressão não é escudo para intolerância. Não há espaço democrático para opiniões que defendem o nazismo, o fascismo ou qualquer ideologia que pregue a eliminação do outro. A divergência enriquece, mas o discurso de ódio ameaça. Defender ideias é legítimo — defender a violência, jamais.

Enquanto estivermos divididos entre extremos, o Brasil continuará perdendo. A verdadeira revolução que o país precisa começa pelo respeito mútuo. E pela liberdade de pensar diferente — sem medo.

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