O Voto que Vem do Asfalto
Sammy Chagas
29 de agosto de 2019Todo ano de eleição é a mesma coisa. Eleitores vão às urnas e as empreiteiras, às obras. Um estudo inédito da Petrobras comprova em detalhes uma suspeita de todos os brasileiros: as obras públicas aumentam em anos eleitorais. Os anos de 2016 e especulações para 2020 registram os picos no consumo de asfalto. Não por acaso, anos eleitorais. Os recordes nacionais de produção e venda de asfalto acontecem, justamente o anos de reeleição.
Este ano o consumo do produto deve crescer, por conta das eleições municipais. Os técnicos estão apostando que no ano de 2020, quando os brasileiros voltam às urnas para escolher prefeitos e vereadores, deve-se registrar o novo recorde de produção.
A proximidade da ida às urnas tem levado prefeitos de todo o País a anunciar novas obras. Eleições à vista é sinônimo de mais estradas pavimentadas. A pressão eleitoral acaba provocando o acúmulo de obras perto das eleições, Pelo orçamento original, os gastos deste ano devem quase dobrar. Com a manutenção e conservação.
Aumento de preço. Os eleitores, além de terem de ver as cidades transformadas em canteiros de obras, também estão pagando mais caro pela pavimentação e construção de novas estradas. O preço do asfalto já subiu este ano, e a conta pode ficar ainda mais salgada.
“A partir desse cenário, a primeira constatação, mais óbvia, é que asfalto rende voto, pois é facilmente perceptível às pessoas a ação governamental. Simples de perceber que o uso feito da pavimentação é desviante, trazendo pouca ou nenhuma vantagem de longo prazo para a sociedade. Recursos públicos não devem ser usados com fim eleitoreiro. Isso viola o princípio da eficiência da administração pública. Transforma políticas públicas, que seriam legítimas, em política eleitoreira. É a perpetuação do “toma lá da cá”.
Um dos graves problemas dessa prática é que o planejamento de longo prazo fica relegado a um segundo plano. Os fins pessoais dos políticos são sobrepostos aos de toda a sociedade. Os investimentos tornam-se descontínuos, até porque os repasses para municípios só podem ser feitos até três meses antes das eleições. Ou seja, o interesse dos políticos conduz à ignorância do planejamento racional do gasto público.
Além disso, a concentração dessas obras em ano eleitoral cria um gargalo na comercialização e distribuição do produto, o que onera toda a cadeia. ”
“A utilização do asfalto como moeda política é esclarecedora sobre como funciona o uso da máquina pública para se vencer as eleições. Demonstra o modo de operar dos grupos que controlam os Poderes Executivos para se manterem no poder. A principal dificuldade é como conseguir quebrar esse ciclo vicioso sem proibir o gasto do Estado em ano eleitoral, pois o investimento estatal é importante para a promoção da economia. A sociedade, assim como os órgãos de controle, precisa buscar meios de barrar esse uso nocivo, que respeita apenas ao interesse particular do político, em detrimento do bem público.”