Megaoperação “Sombra da Mata” e “Tekó Porã” mobilizam forças estaduais e federais no Extremo Sul; cacique é preso, 15 armas são apreendidas e homicídios passam a ser investigados com nova linha de inteligência

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09 de dezembro de 2025
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Teixeira de Freitas / Itamaraju / Prado (BA) – O Extremo Sul da Bahia amanheceu sob uma das maiores ações de segurança já realizadas nos últimos anos. Na manhã desta terça-feira, 9 de dezembro de 2025, as forças policiais do Estado e da União deflagraram simultaneamente as operações Sombra da Mata e Tekó Porã, com objetivo de combater homicídios rurais, ameaças armadas contra aldeias indígenas e a circulação de armas em áreas de conflito fundiário.

Um líder indígena foi preso e outras cinco pessoas são procuradas por forças estaduais e federal durante duas operações que acontecem simultaneamente nesta terça-feira (9), no sul da Bahia, para combater conflitos entre proprietários rurais e povos indígenas.

A mobilização envolveu o CPR Extremo Sul, BOPE/PMBA, CIPE Mata Atlântica, Polícia Civil da Bahia e Polícia Federal, reunindo equipes táticas, unidades de inteligência e agentes especializados no cumprimento de mandados judiciais em comunidades rurais e territórios indígenas.

As informações foram confirmadas em coletiva de imprensa realizada na sede do CPR Extremo Sul, em Teixeira de Freitas, conduzida pelo comandante regional, Coronel Paraíso, e pelo delegado da Polícia Federal, Dr. Diego Gordinho.

Prisão de cacique e apuração dos homicídios em Itamaraju

A Operação Sombra da Mata concentra-se na investigação dos homicídios de dois agricultores — pai e filho — assassinados em 28 de outubro de 2025, na zona rural de Itamaraju. Segundo as autoridades, o crime ocorreu após a invasão da área por um grupo que se identificava como indígena; uma terceira vítima ficou gravemente ferida.

Três pessoas chegaram a ser presas em flagrante na ocasião, mas foram liberadas posteriormente.

Nesta terça, as equipes cumpriram novos mandados e prenderam o cacique Brás, apontado como um dos investigados pelo duplo homicídio. A SSP-BA confirmou que outros cinco mandados de prisão preventiva seguem abertos, e a polícia mantém buscas na mata para localizar os demais suspeitos.

Ameaças, disparos e conflitos em Cumuruxatiba: foco da Operação Tekó Porã

Paralelamente, a Operação Tekó Porã investiga denúncias de ameaças e disparos de arma de fogo feitos por agricultores contra integrantes da Aldeia KAI, no distrito de Cumuruxatiba (Prado/BA), em 1º de outubro de 2025.

Os indígenas estavam em uma área reivindicada como território tradicional — uma “retomada”. Durante o episódio, duas pessoas ficaram feridas.

Nesta etapa da operação, as polícias cumpriram mandados de busca e apreensão nas residências de suspeitos de ordenar e executar as ameaças, além de recolher evidências que possam confirmar a atuação de grupos armados nos conflitos fundiários da região.

15 armas apreendidas hoje e 21 fuzis retirados de circulação desde maio

Somente nas ações desta terça-feira, foram apreendidas 15 armas de fogo em território indígena — entre pistolas, espingardas e armamentos de grande potencial ofensivo.

O delegado da Polícia Federal, Dr. Diego Gordin, destacou que, de maio até hoje, as operações integradas apreenderam dezenas de armas e 21 fuzis, número considerado extremamente alto para a região:

“Esse volume de armas mostra a gravidade das disputas e o avanço do trabalho conjunto. A inteligência foi fundamental para que, mesmo dentro de território indígena, não houvesse um único disparo durante o cumprimento dos mandados.”

Em julho, operações da PF e da Força Nacional já haviam localizado um arsenal semelhante em território indígena, reforçando a necessidade da presença contínua do Estado no combate à militarização dos conflitos.

União das polícias: ponto central do avanço das investigações

O comandante do CPR Extremo Sul, Coronel Paraíso, ressaltou que a integração entre as forças estaduais e federais tem sido decisiva:

“Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, BOPE e CIPE Mata Atlântica seguem unidas. Esse trabalho integrado continuará, com foco na promoção da paz e na garantia da lei e da ordem para indígenas, agricultores e toda a população do Extremo Sul.”

Representantes das polícias reforçaram ainda que a inteligência compartilhada permitiu ações precisas, silenciosas e sem confrontos, evitando feridos e garantindo o cumprimento das decisões judiciais sem escalada de violência.

Entenda o contexto: uma região marcada por tensões históricas

O Extremo Sul da Bahia tem registrado, ao longo dos últimos anos, um ciclo de conflitos fundiários envolvendo retomadas de terra, invasões, ameaças, violência armada e homicídios.

Os episódios de 2025 — com agricultores mortos, indígenas feridos e circulação crescente de armas — reforçam um cenário de tensão agravado pela presença de grupos organizados e pela disputa territorial intensa.

As operações desta terça representam, segundo as polícias, um marco no enfrentamento da criminalidade rural e no enfraquecimento de estruturas armadas dentro e fora de comunidades indígenas.

Próximos passos

As buscas pelos demais investigados seguem em andamento.
Novas fases da operação devem ocorrer nos próximos dias, com foco em:

captura dos mandados pendentes;

desarticulação de grupos armados;

apreensão de armas em áreas rurais e indígenas;

proteção das comunidades envolvidas;

mediação e pacificação de conflitos territoriais;

reforço permanente da presença policial.A expectativa é que as ações continuem pelos próximos meses, à medida que avançam as investigações e se confirmam indícios de atuação criminosa nos conflitos fundiários.

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