Megaesquema de corrupção com emendas parlamentares pode ser o maior da história do Brasil – Interior da Bahia está no olho do furacão

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09 de fevereiro de 2025
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A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) estão aprofundando investigações sobre um gigantesco esquema de corrupção envolvendo emendas parlamentares. As apurações indicam que bilhões de reais podem ter sido desviados por meio de superfaturamento de obras, contratos fictícios e pagamentos irregulares a empresas de fachada. O esquema, que já é considerado um dos maiores da história do país, envolve parlamentares e operadores em diversas partes do Brasil, com forte concentração em cidades do interior da Bahia, onde a menor visibilidade midiática facilitava a lavagem de dinheiro.

A operação, que conta com a participação da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Receita Federal, já bloqueou milhões de reais em bens e determinou o afastamento de servidores públicos suspeitos de participação no esquema. Documentos apreendidos e depoimentos de delatores revelam que a organização criminosa utilizava emendas parlamentares para abastecer um sistema de corrupção complexo, onde valores milionários eram transferidos para empresas previamente escolhidas, responsáveis por superfaturar obras e, posteriormente, devolver parte do dinheiro a políticos e intermediários.

O papel das “emendas Pix” no esquema

As chamadas “emendas Pix”, um mecanismo que permite a transferência direta de recursos federais para estados e municípios sem a necessidade de justificativa detalhada, foram amplamente utilizadas no esquema. Com essa brecha, parlamentares conseguiam destinar milhões de reais a cidades estratégicas, muitas vezes sob o pretexto de obras públicas. No entanto, investigações revelam que grande parte dessas obras nunca saiu do papel, e os recursos foram desviados para contas de empresas fantasmas ou distribuídos entre operadores políticos.

Segundo a PF, ao menos 34 prefeituras da Bahia e do Ceará estão sob investigação por suspeita de participação na destinação fraudulenta de emendas. Municípios menores, que recebem pouca atenção da mídia e órgãos fiscalizadores, foram os principais alvos da quadrilha.

Interior da Bahia: epicentro da corrupção

O foco das investigações está agora no interior da Bahia, onde diversas cidades serviram como base para a movimentação ilegal de dinheiro público. Os agentes federais descobriram que milhões de reais foram enviados para municípios baianos com justificativas frágeis, como melhorias em estradas vicinais, construção de escolas e investimentos na saúde. No entanto, ao visitar os locais, a PF encontrou obras inacabadas, contratos superfaturados e serviços inexistentes.

Em cidades como Campo Formoso, Juazeiro, Irecê e Serrinha, as investigações apontam que empresas de fachada foram contratadas para executar projetos com valores muito acima do mercado. Em alguns casos, o dinheiro foi liberado sem que qualquer serviço tivesse sido iniciado. A Polícia Federal apurou que uma das empresas investigadas, registrada em um pequeno escritório na capital baiana, recebeu mais de R$ 80 milhões em contratos públicos, sem possuir funcionários ou estrutura operacional compatível.

Outro método identificado pelos investigadores foi o uso de empresas de transporte e locação de veículos para lavar dinheiro. Parlamentares e assessores envolvidos no esquema contratavam frotas de carros que, na prática, nunca eram entregues ou utilizadas para serviços públicos. Os valores pagos por esses contratos eram posteriormente distribuídos entre os operadores do esquema.

Um relatório da CGU revelou que algumas cidades baianas receberam valores superiores à própria arrecadação anual do município, um indício claro de irregularidade. A ausência de fiscalização eficiente e a influência política de parlamentares que controlavam a destinação das emendas contribuíram para o avanço das fraudes.

PF rastreia movimentação de dinheiro e bloqueia bens

Além da Bahia, o esquema se espalhou por outros estados do Nordeste e Centro-Oeste, mas foi no interior baiano que a organização criminosa encontrou o ambiente perfeito para operar sem chamar a atenção. A Polícia Federal já identificou movimentações financeiras suspeitas que ultrapassam R$ 1,4 bilhão em desvios. Parte desse dinheiro foi enviada para o exterior e aplicada em contas de paraísos fiscais.

A operação resultou na prisão de diversos assessores parlamentares e empresários envolvidos no esquema. Alguns dos investigados optaram por colaborar com as autoridades em delações premiadas, revelando detalhes sobre como o dinheiro era distribuído e quais parlamentares tinham envolvimento direto no esquema.

Ministro Flávio Dino determina bloqueio de R$ 4,2 bilhões

Diante da gravidade das denúncias, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, determinou a suspensão do pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares até que o Congresso forneça transparência total sobre a destinação dessas verbas. A decisão visa impedir que novos repasses sejam utilizados para alimentar o esquema de corrupção.

O temor do Congresso Nacional

A descoberta desse esquema gerou grande apreensão no Congresso Nacional e no Senado Federal, já que as investigações podem atingir dezenas de parlamentares. A Câmara dos Deputados e o Senado ainda tentam minimizar a repercussão do caso, mas os desdobramentos da investigação apontam para o envolvimento direto de vários políticos influentes.

A sociedade brasileira acompanha o caso com atenção, exigindo punições rigorosas e mudanças no sistema de destinação de emendas para evitar novos escândalos. O Ministério Público Federal já sinalizou que deve ampliar as investigações e apresentar novas denúncias nas próximas semanas.

As informações apresentadas na matéria foram baseadas em investigações conduzidas pela Polícia Federal, Ministério Público Federal, Receita Federal e Controladoria-Geral da União. Essas apurações revelaram um esquema de corrupção envolvendo emendas parlamentares, com desvios que podem alcançar R$ 1,4 bilhão. O esquema inclui fraudes em licitações, superfaturamento de obras e contratos com empresas de fachada, especialmente em municípios do interior da Bahia. A operação, denominada “Overclean”, resultou na prisão de diversos suspeitos e no bloqueio de bens relacionados aos crimes investigados.

O megaesquema de corrupção com emendas parlamentares pode se tornar o maior escândalo financeiro da história do Brasil. Com bilhões de reais desviados, um sistema sofisticado de lavagem de dinheiro e a participação de políticos influentes, o caso expõe as falhas do sistema de fiscalização e a necessidade urgente de uma reforma no modelo de distribuição de recursos públicos. A Polícia Federal e o Ministério Público seguem avançando nas investigações, prometendo levar todos os responsáveis à Justiça.

Fontes – G1 – UOL

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