O ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou nesta segunda-feira (23) o envio de um ofício, a todas as escolas públicas do país, com orientações visando “à melhora do ambiente escolar”. A lista inclui cuidados com o que o governo chama de “doutrinação” e “exposição à propaganda político-partidária”.
Até as 18h, o Ministério da Educação (MEC) não divulgou a íntegra do ofício. O texto foi enviado aos secretários estaduais e municipais de educação, além das associações de ambas as categorias – Consed e Undime, respectivamente.
“Estamos pedindo para cada secretaria, para as comunidades buscarem o bom senso. A gente não quer cercear o direito de ninguém. A gente quer reforçar o direito de todos, principalmente das crianças, a terem um ambiente sadio, evitando bullying, um ambiente que gere automutilação e até mesmo suicídio”, declarou Weintraub.
‘Escola de Todos’
O MEC não apresentou dados estatísticos sobre a recorrência desse fenômeno. Segundo o ministério, até o momento, não há previsão de cartilha com o detalhamento do que, no futuro, poderá ser enquadrado como “doutrinação” em sala.
O projeto foi batizado “Escola de Todos”. Questionado por três vezes sobre a relação da iniciativa com o Escola sem Partido, Weintraub negou a associação.
“É uma escola de todos, plural, que visa a trazer o ambiente de paz, e não o ambiente de cerceamento, de vigilância. A gente está tentando buscar o meio termo, o que os americanos chamariam de common ground.”
Apesar de estabelecer as diretrizes para um ensino mais “harmonioso”, o MEC não pretende criar nenhum tipo específico de fiscalização ou avaliação das condutas de professores e alunos em sala de aula. A ideia é que excessos sejam comunicados às redes municipais e estaduais, ou à ouvidoria que o ministério já disponibiliza por telefone e pela internet.
O MEC também não informou se, e como, pretende punir condutas avaliadas como nocivas à luz desse novo ofício.
Consenso ou pluralidade
Na coletiva, Weintraub foi questionado pela TV Globo se os professores seriam obrigados a apresentar “versões alternativas” de fatos históricos consolidados, para não serem acusados de doutrinação. Por exemplo: equiparar criacionismo e evolucionismo, dizer que o nazismo foi um movimento de esquerda ou lançar dúvidas sobre a existência de uma ditadura militar no Brasil.
Ao responder, o ministro citou apenas o primeiro ponto, que para ele é dispensável. “Criacionismo, não precisa. É uma questão de fé. (…) Eu até sou contra falar do design inteligente, acho melhor ficar na teoria original”, disse.
O “design inteligente” citado por Weintraub é uma hipótese minoritária, que refuta a seleção natural de Charles Darwin e sugere a existência de uma inteligência superior que orienta a evolução biológica. O MEC e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) são contrários ao ensino dessa tese e do criacionismo nas aulas de ciências e biologia.
Weintraub não respondeu sobre as “teorias alternativas” a respeito do nazismo e da ditadura militar, que ganharam eco nos últimos anos a partir de iniciativas como o Escola sem Partido. Em vez disso, o ministro citou a necessidade de falar sobre economistas de diferentes escolas.
“Eu sou professor. E já tive professores de todos os matizes que você pode imaginar. Vamos pegar só uma questão teórica. Você tem Hayek [economista austríaco, defensor do Estado mínimo] e Keynes [economista britânico, defensor do amplo investimento público]. A postura honesta é, antes de ensinar os dois, dizer: ‘olha, eu me identificou mais com esse aqui. O outro tem vários seguidos, mas vocês têm que se lembrar que eu tenho um viés’.”
Ainda de acordo com Weintraub, o ofício enviado às redes públicas servirá para “lembrar aos pais e às associações de pais que eles é que têm que lutar e prezar por um ambiente salutar para os filhos”.
“A lei já determina que o ambiente seja sadio, amistoso, de não doutrinação, plural. E acompanhar, dia a dia, o que o professor vai ensinando. Se o professor fala só uma ponta, só uma ponta, só uma ponta, de repente uma conversa resolve.