
Entenda como decisões do Fed, banco central dos EUA, impactam o Brasil
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28 de julho de 2022O mercado global repercutiu nesta quarta-feira (27) a reunião do Federal Reserve (Fed), Banco Central dos Estados Unidos, que decidiu elevar a taxa de juros do país pela quarta vez. Mas o que muitos não sabem é como o Fed pode influenciar o Brasil.
Para entender como a autoridade monetária dos EUA repercute na economia brasileira é necessário saber primeiro como funciona o banco central norte-americano.
O Fed possui uma função parecida com a do Banco Central do Brasil (BC). E é responsável por definir e regular as medidas relacionadas à economia dos EUA e uma das suas principais funções é a definição da taxa de juros básica do país.
Como o Fed afeta outras economias?
O banco não consegue interferir diretamente nos outros países, no entanto, por os EUA serem a maior potência mundial, as decisões acabam tendo impacto nas bolsas de valores, nas commodities e na economia.
Por exemplo quando se trata da taxa de juros básica, que foi elevada para tentar conter os efeitos da crise econômica causada pela pandemia do novo Coronavírus e também pela a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Além disso, o banco acaba afetando diretamente a compra e venda de títulos e taxa de descontos de outros países.
Como o aumento da taxa de juros dos EUA afeta o Brasil ?
Segundo o economista e assessor de investimentos, André Luzbel, o receio do mercado referente ao aumento da taxa nos EUA é um equívoco, pois a inflação brasileira ainda está muito acima da taxa de juros norte-americana.
“Teoricamente não deveria ter muito impacto esse aumento de juros dos EUA, por um motivo específico, a inflação ainda está muito acima da taxa básica de juros deles. Então, por exemplo, a inflação deles está em torno de 8% e 9% e eles acabaram de subir a taxa Selic deles, para 3 a 3,5. Ou seja, o investidor americano que deixa dinheiro parado na conta, ainda perde algo em torno de 6% ao ano, só de inflação, diferente do Brasil, que você tem a taxa Selic acima de 13 e uma inflação rodando próximo dos 10%. Quando você ganha 13 e perde 10 da inflação, ainda que você tire imposto de renda, você tem um ganho líquido. Nos EUA não você tem um prejuízo”, explicou.
Luzbel esclareceu que no curto prazo, essa elevação da taxa dos EUA não deve impactar tanto a economia brasileira, ao contrário de países que têm uma taxa pior do que a norte-americana, a exemplo da Europa.“O investidor europeu está perdendo mais dinheiro na Europa do que nos EUA na renda fixa”.
O economista também ressaltou que no cenário mundial os juros vêm crescendo para tentar driblar a inflação e o fator que consegue passar por isso são as empresas ligadas às commodities, onde as maiores estão no Brasil e na Austrália. Com isso, segundo André, a alta global da inflação acaba favorecendo o Brasil.
Além disso, o assessor pontuou outro fator relevante que ajuda a manter, principalmente a bolsa de valores brasileira (B3), com desempenho estável é a queda dos juros da China.
“A China está em um processo de redução de juros e estímulo fiscal, ou seja, ela está botando dinheiro na economia e quando isso acontece, ela foca muito no setor de infraestrutura, o que acaba consumindo muito aço e minério. Basicamente, boa parte do Ibovespa é composto de mineração, siderurgia, petróleo, que está ligado ao aquecimento da economia do mundo interno, e aos grandes bancos, que ganham dinheiro com juros altas”, afirmou.
Dólar frente ao real
Sobre os impactos em relação ao dólar frente ao real, o economista ressaltou que o aumento da taxa de juros dos EUA não refletirá em nada dos desempenhos atualmente.
“Ela poderia sofrer uma influência caso o juros americano fosse maior que a inflação, como não é, o estrangeiro ganha mais dinheiro aplicando nos juros do Brasil, do que nos juros da Europa e dos EUA, então essa alta de hoje não mudou nada. Só muda caso o juros fique maior que a inflação aí o dólar deveria ganhar valor aqui, mas até então o real deveria ser mais forte”, finalizou.
O dólar fechou a sessão desta quarta em queda de 1,92%, a R$ 5,249, menor valor registrado desde o dia 30 de junho. Já o Ibovespa encerrou com alta de 1,67%, aos 101.437,96 ponto – o maior patamar desde 15 de junho.