
DEMOCRACIA NÃO É GUERRA: PENSAR DIFERENTE NÃO NOS FAZ INIMIGOS
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29 de março de 2025Coluna por Sammy Chagas
Viramos especialistas em destruir amizades em tempo recorde. Basta alguém dizer “votei no Lula” ou “sou Bolsonaro” que a mesa vira, o grupo silencia e os olhos se enchem de ódio. Parabéns, Brasil. Conseguimos transformar política em torcida organizada — só que sem estádio, sem juiz e com muito dedo na cara.
Estamos vivendo a era da intolerância gourmet: sofisticada nos xingamentos, inflamada nos argumentos rasos e sempre pronta para cancelar alguém por ousar… pensar diferente. Tem gente que acorda mais preocupado com o que o adversário político está fazendo do que com o preço do arroz.
Lula e Bolsonaro são só nomes em cargos temporários. Mas a insanidade de quem os idolatra ou demoniza parece eterna. Lula e Bolsonaro são só nomes em cargos temporários. Mas a loucura de quem os idolatra ou demoniza parece eterna. E o mais irônico? Ambos são parte do mesmo sistema que dizem combater. Estão lá dentro, sentados nas mesmas cadeiras, jogando o mesmo jogo. E aqui fora, a gente se estapeando no grupo da família como se isso fosse mudar o rumo do país.
Querem saber a verdade nua e crua? Nenhum político vai pagar sua conta de luz. Muito menos cuidar da sua saúde mental depois de uma discussão inútil no grupo da família. Eles nem sabem que você existe. Mas você insiste em odiar o outro por causa deles. É quase poético. Ou trágico.
A política deveria nos mobilizar para mudar o mundo, não para agredir quem mora ao lado. Se você precisa xingar, humilhar ou excluir alguém para defender sua opinião, talvez o problema não esteja na política — esteja no seu senso de humanidade.
Discordar é saudável. Debater é necessário. Mas virar inimigo por isso? É burrice institucionalizada.
A gente precisa urgentemente reaprender a conversar. A divergir sem se odiar. A lembrar que a democracia não é sobre pensar igual, é sobre respeitar o pensamento do outro. A democracia não exige que todos pensem igual. Só exige que a gente saiba conviver com as diferenças. Coisa que, pelo visto, anda em falta no mercado — junto com o bom senso.