
COM O VALOR DO PEDRÃO, EUNÁPOLIS PODERIA CONSTRUIR 10 POSTOS DE SAÚDE
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06 de junho de 2025O São João é a maior expressão cultural do povo nordestino — mas em Eunápolis, ele vem ganhando um outro significado: o de gastos públicos que levantam sérios questionamentos. Estimativas indicam que o Pedrão 2025 pode custar mais de R$ 20 milhões aos cofres municipais, somando estrutura, produção, logística e contratação de atrações de renome nacional.
É claro que festa é cultura, é tradição. Mas quando o valor de um evento atinge cifras tão expressivas, é impossível não se perguntar: e se esse mesmo recurso fosse aplicado em saúde ou educação? Com R$ 20 milhões, a cidade teria capacidade de construir até 10 Unidades Básicas de Saúde (UBS) completas, com consultórios médicos, salas de vacina, odontologia e equipe multiprofissional. Ou ainda, implantar várias escolas ou creches públicas, atendendo uma demanda que, em muitos bairros, ainda é realidade.
UMA FESTA CADA VEZ MAIS DISTANTE DAS RAÍZES
A crítica não é à realização da festa em si. O São João é do povo. O problema está na desproporcionalidade dos investimentos, que deixam de priorizar a identidade local, o forró autêntico e os artistas da região. A festa perde o caráter tradicional para dar lugar a estruturas gigantescas, camarotes de luxo e atrações que, muitas vezes, não têm relação com a essência junina.
Eunápolis tem história, tem cultura, tem tradição — mas não é um destino turístico consolidado que justifique cifras tão altas com base em retorno econômico imediato. A alegação de que a festa movimenta o comércio local é válida, mas não há garantias de que o valor gasto voltará integralmente para o município, especialmente com boa parte do comércio operando na informalidade.
A PERGUNTA QUE FICA
Ninguém está dizendo que o São João deve acabar. Mas será que precisa custar tanto? Será que não seria possível fazer uma festa bonita, cultural, forte, com mais forró, mais raiz e menos ostentação?
A gestão pública precisa lembrar que governar é equilibrar. E nesse balanço, talvez a balança do Pedrão esteja pendendo mais para o palco do que para o povo.
Porque quando se gasta o suficiente para erguer 10 postos de saúde em apenas quatro noites de festa, a batida do forró pode acabar abafada pelo som da falta de prioridades.