
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025 DENUNCIA A HIPOCRISIA RELIGIOSA DIANTE DA CRISE AMBIENTAL
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27 de março de 2025Enquanto muitos se escondem atrás do “precisamos orar”, a Campanha da Fraternidade 2025 convoca à ação concreta: ou cuidamos da criação de Deus agora, ou testemunharemos a extinção da vida sobre a Terra — inclusive a humana.
Com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral: Deus viu que tudo era muito bom”, a Campanha da Fraternidade 2025 rompe o silêncio diante do colapso ambiental que se aproxima. Mais do que um chamado à reflexão, a proposta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é um grito de alerta: sem ação concreta, a fé vira omissão.
É cada vez mais comum ouvir vozes que repetem: “precisamos orar, precisamos rezar”. E, de fato, a oração tem seu valor espiritual e fortalece a fé. Mas de que adianta rezar sem agir? De que adianta dobrar os joelhos se as mãos continuam sujas de omissão diante da destruição da criação de Deus? Jesus orava sim. Mas também denunciava, caminhava, curava, lutava, tocava os marginalizados e enfrentava o sistema opressor de seu tempo.
Cristo não nos ensinou apenas a adorar, mas a transformar. A espiritualidade cristã autêntica não se limita ao altar, ela se estende ao cuidado com os pobres, com os doentes e, sim, com a natureza. Porque toda a criação louva a Deus — e estamos assassinando essa criação.
A CASA ESTÁ EM CHAMAS
Enquanto a fé é usada como desculpa para a inércia, os oceanos estão morrendo. Cientistas já alertam que, caso as emissões de carbono continuem nesse ritmo, em poucas décadas os mares poderão se tornar estéreis, sem vida marinha. E o que isso significa? Um colapso em cadeia:
- Peixes desapareceriam, afetando a segurança alimentar de bilhões.
- Fábricas de oxigênio naturais, como algas e fitoplânctons, deixariam de produzir ar puro.
- Cadeias econômicas ruiriam, gerando fome, desemprego e conflitos sociais.
- As mudanças climáticas se agravariam, com eventos extremos mais frequentes: secas, tempestades, calor insuportável e inundações destrutivas.
Sem árvores, sem matas, não há vida. Elas são responsáveis por regular o clima, filtrar o ar, manter a umidade e garantir a fertilidade do solo. Se a Amazônia cair, o Brasil vira deserto. Se o Pantanal morrer, perdemos nossa biodiversidade. A criação está pedindo socorro — e a resposta não pode ser só um “Pai Nosso”.

© EPA/Abir Abdullah/Agência Lusa/Direitos Reservados
ECOS DE FRANCISCO DE ASSIS
Em 2025, a Igreja celebra 800 anos da inspiração franciscana. São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia, compreendeu como poucos que Deus está na criação. Não em sentido panteísta, mas sacramental. Para ele, o mundo natural era reflexo da bondade divina. Chamava o Sol de “irmão” e a água de “irmã”, pois via neles a beleza e a generosidade de Deus.
Francisco não romantizou a natureza — ele a abraçou como parte do plano divino. Hoje, essa visão ganha novo vigor com o Papa Francisco, que em sua encíclica Laudato Si’ afirma que “o grito da Terra é o grito dos pobres”.
FÉ SEM OBRA É MORTA
Criticar a Campanha da Fraternidade por abordar a ecologia é negar o Evangelho na prática. É viver uma fé que exalta o culto, mas ignora a missão. É fechar os olhos para o drama das vítimas dos desastres ambientais, das comunidades indígenas ameaçadas, das populações ribeirinhas abandonadas, dos pobres que morrem soterrados ou afogados enquanto clamam por misericórdia.
Não se trata de escolher entre salvar almas ou cuidar da Terra. Trata-se de entender que ambos estão conectados. Não existe alma viva em corpo morto. E não existirá corpo vivo em um planeta morto.
Seguir a Cristo é fácil — é “mamão com açúcar” como se diz no popular. Difícil mesmo é imitá-Lo. Pedir ajuda, rezar, ir à igreja, tudo isso é necessário, mas confortável. O verdadeiro desafio é encarnar o Evangelho na prática, agir como Ele agiria, amar como Ele amou, denunciar como Ele denunciou, perdoar como Ele perdoou e cuidar como Ele cuidava. A proposta da Campanha da Fraternidade nos interpela: quem está realmente disposto a imitar Jesus? Porque a santidade não passa apenas por seguir a figura de Cristo, mas por reproduzir suas ações no mundo concreto — e isso exige coragem, compromisso e entrega.
A conversão ecológica é urgente. A Campanha da Fraternidade 2025 nos lembra que, se Deus viu que tudo era muito bom, destruir essa criação é ofendê-lo diretamente. O tempo de ficar apenas orando passou. Agora, é hora de levantar, agir, proteger e preservar. Ou pereceremos juntos.