
APLAUSOS À VIOLÊNCIA: A BANALIZAÇÃO DO RESPEITO HUMANO EM PLENA VIA PÚBLICA
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10 de junho de 2025Por Sammy Chagas
Em meio ao caos urbano e à correria cotidiana, algo profundamente perturbador tem ganhado espaço entre nós: a banalização do ser humano. Um fenômeno que vai além da violência em si — trata-se da vulgarização da própria dignidade humana. Em Teixeira de Freitas, mais um exemplo escancarado dessa distorção coletiva foi amplamente compartilhado nas redes sociais nesta terça-feira.
Circula nas plataformas digitais da cidade um vídeo que mostra dois cidadãos em confronto físico, em plena via pública. A agressão, em si, já é condenável, mas o que mais choca não é o soco, o chute ou o sangue. O que dói, o que assusta, é a reação da plateia: aplausos. Gritos de incentivo. Risos. Câmeras ligadas. Como se fossem personagens de um espetáculo grotesco, duas vidas se confrontam sob a euforia de espectadores que celebram a desgraça alheia.
A cena levanta uma reflexão urgente: em que ponto perdemos o sentimento de compaixão? Quando foi que o sofrimento virou entretenimento? Onde deixamos cair o respeito pelo outro — pelo semelhante — ao ponto de naturalizarmos, ou pior, comemorarmos a violência?
Não se trata aqui de discutir as motivações do embate, tampouco de buscar culpados formais. A reflexão vai além. É social. É cultural. É humana. O problema da violência urbana não pode mais ser atribuído apenas ao poder público. Está entranhado nas relações sociais, nos laços frágeis e cada vez mais doentes entre as pessoas. Vivemos tempos em que se pede socorro e se responde com uma selfie. Em que a dor do outro se torna viral, mas não gera empatia.
Estamos formando, lentamente, uma sociedade de espectadores apáticos — ou piores: cúmplices voluntários. Seres humanos que, diante da barbárie, não tentam acalmar, mas instigam. Que não estendem a mão, mas apertam “gravar”. Que não sentem vergonha, mas orgulho em ser o primeiro a postar a miséria alheia.
O vídeo, gravado em Teixeira, é apenas um sintoma. O diagnóstico é mais profundo: uma deficiência afetiva, uma falência de valores, uma epidemia de indiferença. Estamos criando gerações que reagem à dor com emoji de riso, que aplaudem brigas de rua como se fossem reality show, que veem a violência como conteúdo, e não como tragédia humana.
É estranho. É doloroso. É perigoso.
Se fosse uma briga de cães, talvez alguém intervisse para separá-los. Mas eram dois humanos. E, ironicamente, isso pareceu justificar o espetáculo. Como chegamos a esse ponto?
Toda regra tem exceção, é verdade. Ainda há quem se indigne, quem se comova, quem tente intervir. Mas, infelizmente, essa parcela parece ser cada vez mais silenciosa — abafada pelos gritos, pelos aplausos, pelos vídeos em 4K.
A urgência não está apenas em combater a violência. Está em resgatar a humanidade.