
ACM NETO: O GOVERNADOR DAS PESQUISAS QUE NÃO CHEGOU AO PALÁCIO
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07 de maio de 2025Por Sammy Chagas
Isolamento político, distanciamento das bases e desgaste no interior desafiam o ex-prefeito de Salvador na Bahia do século XXI
Se pesquisa eleitoral fosse sinônimo de eleição garantida, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), estaria hoje no segundo mandato como governador da Bahia. Durante o pleito de 2022, liderou todos os institutos por meses a fio, com ampla margem. No entanto, as urnas revelaram outro cenário: a vitória de Jerônimo Rodrigues (PT), um nome até então pouco conhecido do grande público, mas que percorreu os 417 municípios baianos em campanha corpo a corpo.
A discrepância entre o que mostravam as pesquisas e o resultado final acendeu um alerta: onde falham os levantamentos de intenção de voto? Seriam reflexos de metodologias mal aplicadas, erros de amostragem ou resultados pré-fabricados? O fato é que o eleitorado baiano parece já não se moldar por números impressos, mas por presença, escuta ativa e propostas realistas. O que move hoje o voto é o “solado gasto” do político no chão do interior.
ACM Neto parece ainda preso a um modelo centralizador de articulação política, herança da era de seu avô, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, em que a força do poder se concentrava em Salvador. Mas a Bahia de hoje é diversa, pulverizada em centenas de cidades com realidades próprias e lideranças autônomas. A ausência de uma presença constante nos interiores do estado fragilizou a musculatura eleitoral de Neto, que, após a derrota, optou pelo silêncio estratégico e pelo isolamento, limitando sua atuação às redes sociais e críticas esparsas ao governo estadual.
Enquanto isso, Jerônimo Rodrigues consolidava-se como um governador presente, adotando uma agenda de aproximação com prefeitos e lideranças regionais. Seu estilo discreto, mas operante, minou a narrativa oposicionista de ACM Neto. E pior: a falta de articulação deixou aliados sem discurso e, em muitos casos, sem estímulo para erguer palanques no interior.
Hoje, mesmo prefeitos simpáticos a ACM Neto evitam criticar abertamente o governo Jerônimo, reconhecendo entregas e investimentos nos municípios. Nessa conjuntura, manter uma base que não queira confrontar o governo estadual já é um feito. O silêncio das lideranças é, em parte, o reconhecimento tácito do trabalho em curso.
Para ACM Neto, o maior desafio não é disputar a eleição, mas reocupar um espaço político que foi sendo tomado pela ausência. Reconquistar aliados, alinhar discursos e, sobretudo, andar pelos caminhos que não percorreu em 2022 pode ser a única saída para evitar que continue sendo, mais uma vez, o “governador das pesquisas”.