
A MORTE DE UM PAPA E O LEGADO MILENAR DA IGREJA CATÓLICA
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21 de abril de 2025O que estremece o mundo não é apenas a perda de um líder, mas a silência momentânea da maior instituição espiritual e caritativa da história humana.
O falecimento do Papa Francisco, no dia 21 de abril de 2025, aos 88 anos, no Vaticano, não representa apenas a morte de um pontífice. Marca o fim de um dos pontificados mais singulares e simbólicos da Igreja Católica Apostólica Romana.
Francisco foi o primeiro Papa das Américas, o primeiro jesuíta no trono de Pedro, e o primeiro a escolher o nome do humilde santo de Assis, revelando logo de início a opção preferencial pelos pobres, pela paz e pela simplicidade. Foram 12 anos de pontificado, com 60 viagens internacionais, mais de mil pronunciamentos oficiais e incontáveis gestos de compaixão e humildade.
Porém, a comoção provocada por sua morte não se resume a sua trajetória pessoal. A morte de um papa paralisa o mundo porque simboliza a pausa, mesmo que breve, na voz da maior instituição de caridade do planeta, a mais antiga em funcionamento ininterrupto, e uma das principais promotoras da cultura, da ciência, da saúde e da educação em escala global.
A IGREJA QUE TRANSFORMOU O MUNDO
Com mais de 1,4 bilhão de fiéis espalhados por todos os continentes, a Igreja Católica administra atualmente cerca de 221 mil paróquias, mais de 3 mil dioceses, centenas de milhares de comunidades locais e cerca de 115 mil instituições assistenciais, entre 5.322 hospitais, 14.415 dispensários, 9.230 orfanatos e 15.204 casas de repouso para idosos e deficientes.
A Igreja também é a maior mantenedora não governamental de educação do mundo: são mais de 216 mil escolas católicas, com aproximadamente 62 milhões de estudantes, e 1.509 universidades católicas espalhadas em todos os continentes, que formam milhões de jovens com base nos princípios cristãos de solidariedade, justiça e ciência.
Mas seu legado vai muito além da caridade. Foi a Igreja Católica quem criou os primeiros hospitais públicos da história, inspirada na prática do cuidado com os doentes como ato de amor cristão. Foi ela também quem fundou as primeiras universidades da Europa: Bologna (1088), Oxford (1096), Salamanca (1134), Paris (1150). Essas instituições surgiram sob tutela e financiamento eclesiástico, com foco na filosofia, teologia, ciências naturais, medicina e direito.
A própria ciência moderna tem berço em mosteiros e universidades católicas. O padre belga Georges Lemaître, por exemplo, foi quem propôs a teoria do Big Bang. A genética moderna deve muito ao monge Gregor Mendel. Galileu, Copérnico, Pasteur, todos estudaram em estruturas mantidas ou incentivadas pela Igreja.
O PAPA DA PAZ
Francisco, dentro dessa linha de sucessão apostólica iniciada com Pedro, deu ênfase à paz, ao diálogo inter-religioso e à inclusão social. Em suas mais de 60 viagens internacionais, visitou países em guerra, minorias católicas e zonas de conflito. Em 2013, no Brasil, reuniu mais de 3 milhões de pessoas na Jornada Mundial da Juventude, em Copacabana. Em 2017, foi à Colômbia para apoiar os acordos de paz. Esteve também na República Centro-Africana, no Sudão do Sul, em Myanmar e no Iraque.
Mesmo fragilizado, em sua última bênção Urbi et Orbi, pediu que “o mundo não se conforme com a guerra, mas acredite sempre na possibilidade da paz”. Condenou o uso de armas nucleares, os lucros da indústria armamentista e pediu desarmamento global.
SUA MORTE E O SILÊNCIO DO TRONO DE PEDRO
Com sua morte, a Igreja entra na fase chamada “Sede Vacante”. O Cardeal Camerlengo, Kevin Farrell, assume a administração do Vaticano até a eleição do novo Papa, a ser realizada em Conclave pelos 127 cardeais com direito a voto.
Mais do que luto, o momento é de reverência a um homem que buscou fazer da Igreja um reflexo mais fiel do Evangelho. Francisco nunca viu a Cúria como castelo de poder, mas como campo de serviço. Deixou um testamento espiritual que insiste: “a misericórdia é o verdadeiro rosto de Deus”.
Sua morte nos lembra que a Igreja é humana, mas também divina. E que, mesmo diante da perda de um Papa, sua missão prossegue: formar consciências, salvar vidas, cuidar dos pobres e transformar a sociedade à luz de Cristo.