🌍 ENQUANTO UNS SOBREVIVEM EM CAIXÕES, NÓS AINDA PODEMOS VIVER!

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19 de outubro de 2025
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Coluna de Sammy Chagas

Entre o concreto e a fé, hå quem ainda consiga sorrir.

Em Hong Kong, uma das cidades mais ricas e modernas do planeta, existe uma realidade que dĂłi.
Milhares de pessoas vivem confinadas em espaços tão pequenos que mal caberia um corpo deitado.
SĂŁo os chamados apartamentos-caixĂŁo, uma das faces mais tristes da crise de moradia do mundo.
Dentro desses cubículos — com menos de 2 m de comprimento e pouco mais de 1 m de largura, sem janelas, sem ventilação e muitas vezes sem privacidade — um ser humano vive, come, dorme e sonha.
Sonha, talvez, com algo que para nĂłs parece banal: ter um lar de verdade.

Ali, no coração de uma metrópole milionåria, gente vive empilhada em gaiolas metålicas, pagando caro por um espaço que não chega a cinco metros quadrados.
Um pedaço de chĂŁo que se tornou a Ășltima esperança de quem foi engolido pela desigualdade.
E, ainda assim, o mais impressionante Ă© que alguns conseguem sorrir.
Sorrir dentro do caos, no silĂȘncio da falta de ar, na ausĂȘncia de horizonte.

Quando vi essa reportagem, algo em mim parou.
E a pergunta veio certeira:
nĂłs, brasileiros, de que tanto reclamamos?

Aqui, em Teixeira de Freitas — e em tantas outras cidades deste Brasil imenso — nós ainda podemos viver.
Podemos acordar e ver o sol nascer.
Podemos caminhar pela avenida, tomar banho de chuva, ir Ă  praia, mergulhar no rio, respirar fundo e sentir o cheiro da terra molhada.
Podemos ouvir o canto dos passarinhos e o riso das crianças.
Podemos trabalhar, estudar, sonhar, celebrar e recomeçar.
Podemos, atĂ© mesmo nas dificuldades, escolher — escolher uma escola para os filhos, escolher o caminho, escolher o que queremos ser.
E, acima de tudo, ainda podemos ter fé.

FĂ© — essa palavra que o mundo moderno tenta enterrar, mas que segue viva no coração do nosso povo.
FĂ© que nĂŁo se limita a uma religiĂŁo.
FĂ© que nasce da alma, que se manifesta em muitas formas:
na reza de manhã, na saudação ao orixå, no cùntico da igreja, na vela acesa no canto da casa, no abraço silencioso de quem acredita que o amanhã pode ser melhor.
O brasileiro Ă©, por essĂȘncia, um povo que acredita — acredita em Deus, acredita no bem, acredita na vida.

E é justamente essa fé que nos torna diferentes.
Porque, enquanto o mundo corre atrĂĄs do ter, nĂłs ainda conseguimos sentir.
Enquanto outros se ajoelham diante do dinheiro, nós ainda conseguimos dobrar os joelhos diante da fé.
Enquanto milhĂ”es vivem em silĂȘncio dentro de um caixĂŁo, nĂłs ainda conseguimos abrir a janela e ver o cĂ©u.

Eu sei que muitos nĂŁo acreditam em Deus.
Mas este jornalista acredita.
E acredita profundamente que Ă© Deus — ou o que cada um entende como divino — que ainda mantĂ©m o ser humano de pĂ©.
A fé é o que impede a alma de desabar.
É ela que transforma a sobrevivĂȘncia em vida, o desespero em esperança, o medo em recomeço.

Por isso, esta coluna nĂŁo Ă© um convite ao comodismo.
É um chamado Ă  consciĂȘncia, Ă  gratidĂŁo e Ă  ação.
É o grito de quem vĂȘ que o mundo se tornou barulhento demais para ouvir o essencial.
NĂłs reclamamos tanto, mas esquecemos de agradecer.
Reclamamos do trabalho, mas esquecemos de agradecer por poder trabalhar.
Reclamamos da rotina, mas esquecemos de agradecer por poder acordar.
Reclamamos da vida, mas esquecemos de agradecer por estar vivo.

E estar vivo, neste tempo, jå é um privilégio.

Pense nisso:
hĂĄ gente do outro lado do mundo que pagaria caro para ter o que vocĂȘ tem —
um lar, uma cama, um café quente, o som da rua, o toque do vento, o direito de caminhar em paz.
HĂĄ quem daria tudo para sentir a chuva cair no rosto, para ouvir o canto de um pĂĄssaro, para poder sonhar.

Em Hong Kong, o progresso engoliu o humano.
Mas aqui, mesmo entre as dificuldades, nós ainda temos algo que o dinheiro nunca vai comprar: fé, liberdade e esperança.

Então, nesta segunda-feira — e em todas as outras —
antes de reclamar, respire e agradeça.
Agradeça pela casa que abriga, pela rua que te leva, pelo sol que te aquece, pelos amigos que te escutam.
Agradeça porque vocĂȘ pode sorrir.
Agradeça porque vocĂȘ pode viver.
E, acima de tudo, agradeça porque vocĂȘ ainda pode acreditar.

Porque, enquanto uns vivem dentro de caixÔes,
nĂłs ainda temos o privilĂ©gio — e a missĂŁo — de viver fora deles.

E vocĂȘ, vai continuar reclamando?

Por Sammy Chagas – Jornalista

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